quinta-feira, 20 de junho de 2013

A Homeopatia no Brasil

 

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A história da homeopatia no Brasil teve os seus capítulos iniciais quando o médico francês Benoit Jules Mure (1809 -1858) desembarcou no país, com os ensinamentos de  Samuel Hahnemman na bagagem. Mure aportou em terras brasileiras depois de uma peregrinação pela Europa divulgando os princípios da então nova arte médica. Palermo, Paris, Cairo e Malta estiveram em seu roteiro de propaganda homeopática.


Quando desembarcou no Rio de Janeiro, a bordo da barca francesa Eole, em novembro de 1840, Mure estava com 31 anos e repleto de projetos visionários. Filho de um rico burguês de Lyon,formou-se em medicina em Montpellier (um reduto da medicina vitalista) e recuperava-se de uma tuberculose pulmonar – doença comum na época.


O propósito inicial da vinda de Mure ao Brasil era a fundação de uma colônia societária, em Santa Catarina, com a ajuda de cem famílias trazidas de Paris. O médico,representante oficial da Union Industrielle de Paris,  e os colonos franceses foram apresentados ao Imperador em 1841. Com a aprovação de D. Pedro II, no ano seguinte, a colônia do Sahy é fundada. Na região, Mure instala a Escola Suplementar de Medicina e o Instituto Homeopático do Sahy - fundando um dispensário de medicamentos, um centro de ensino com ambulatório e uma comissão de correspondência e redação. Apesar dos esforços, a colônia não vingou.


Benoit Jules Mure continua o trabalho em prol da homeopatia, fazendo palestras  e buscando uma medicina social mais ativa.  Seu objetivo era conseguir um parecer favorável da academia médica para a então nova escola médica. Contrário a exclusão e defensor da saúde pública, o médico francês incorporou a seu projeto de expansão da homeopatia o tratamento dos escravos e dos excluídos do Brasil imperial.

MEDICINA SOCIAL

Mure sabia que precisaria de apoio político e aval acadêmico para conseguir bases mais estáveis para a homeopatia. Então, mobiliza-se para alcançar apoio de instituições, fazendo contatos políticos. O reconhecimento veio, mas a um preço alto. O apoio político trouxe diversos ataques dos opositores. A homeopatia virou polêmica nacional e foi parar nos grandes jornais da época, como o Diário do Comércio.


No dia 10 de dezembro de 1843, abria as portas o Instituto Homeopático Brasileiro. A Rua São José, 59, tornava-se um endereço bastante conhecido. A homeopatia foi, durante todo período de escravidão, a medicina usada pelos escravos, já que ela era de baixo custo e eficiente. Assim, nasciam os consultórios gratuitos. Graças à adesão popular aos tratamentos homeopáticos, a Academia Imperial de Medicina decide abrir os consultórios gratuitos também.

A FASE DE EXPANSÃO

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Diante da empreitada bem sucedida no Rio de Janeiro, Mure e seus colaboradores pensam em expandir a propaganda da Homeopatia a outros estados através de emissários. Os consultórios populares que surgiam no Rio e em outros estados eram abertos com a fortuna pessoal de Mure.


Em 1847, é inaugurada a Sociedade Homeopathica Bahiana, filial do Instituto Homeopático. No final deste mesmo ano, é a vez de do Hospital Homeopático. A inauguração teve a chancela do médico Duque Estrada – que mais adiante autorizou a publicação de panfletos divulgando a homeopatia no combate a cólera. O saber homeopático ganhava os postes das ruas do Rio de Janeiro e São Paulo.


Com a saúde abalada, devido à  reativação da tuberculose pulmonar, o médico pede exoneração do cargo de diretor da Escola Homeopática. Outro médico, Vicente Amorim, assume o posto, e Mure deixa o Brasil em abril de 1848.  Depois da partida de Mure surgem novas organizações homeopáticas, como  a "Sociedade Hahnemanniana" e a "Academia Médico-Homeopática". Benoit Mure falece em 1858 no Cairo.

SÉCULO XX

A homeopatia se desenvolveu até 1920. Após a I Guerra Mundial, o mercado capitalista se expandiu e o espaço para as ciências minoritárias foi suprimido. Inovações tecnológicas atraíram a atenção para a medicina tradicional e o mundo foi envolvido por promessas de tratamentos rápidos e sem dor. Este conjunto de fatores interrompeu a ascensão da homeopatia.


Somente no final dos anos 70, é  que a homeopatia ganha nova força e volta a crescer dentro do cenário mundial. As mudanças de concepções e a busca pelo bem estar e a qualidade de vida provocaram a procura por meios alternativos de saúde.


Em 1980, um novo impulso: a homeopatia é reconhecida como especialidade médica, pelo Conselho Federal de Medicina, e consegue entrar na saúde pública - ainda tímida e sem a estrutura de regularidade necessária. Sem saída, ela ganha força nos consultórios particulares. No final de 2004, o Ministério Público propõe a implementação de uma política nacional de medicinas alternativas, para levar tratamentos como a homeopatia e a fitoterapia ao Sistema Único de Saúde (SUS).


Mais uma vez, a comunidade médica homeopata enxerga a possibilidade de fazer parte do sistema de saúde público e levar a simplicidade e a eficiência do tratamento homeopático àqueles que mais necessitam. Uma nova luta ainda está em curso, para que a homeopatia possa, enfim,estar presente em todas as esferas da medicina brasileira.

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